terça-feira, 6 de agosto de 2019

Nova espécie de sagui é descoberta na Amazônia

Uma nova espécie de sagui acaba de ser descrita no Brasil: é o sagui-dos-Munduruku. O animal pertencente ao gênero Mico foi descoberto pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Universidade Federal do Amazonas, Rodrigo Araújo, durante expedições de campo ao sudoeste do Pará.

Espécies do gênero Mico

“Ao todo, foram dez expedições de campo no meu trabalho de doutorado, sendo que quatro destas incluíram áreas no interflúvio do Tapajós-Jamanxim, região de Itaituba e Jacareacanga. Na primeira jornada por lá encontrei com esses saguis. Logo que observei com binóculos percebi que eles eram diferentes e que poderiam ser uma espécie nova”, conta.



A diferença que saltou aos olhos do estudioso, à primeira vista, foi a coloração dos pelos dos primatas. “O rabo deles eram totalmente brancos, e esta é uma condição muito incomum em primatas na América do Sul”, acrescenta.

O primeiro encontro com o grupo pequeno de três macacos foi em 2015 e, a partir daí, Rodrigo se dedicou a fundo às pesquisas para avaliar se os saguis encontrados em campo tratavam-se de uma nova espécie ou não.

Após anos realizando expedições em áreas do arco do desmatamento, diferentes exames com sequenciamento do DNA dos primatas, estudos sobre a distribuição geográfica e visita a museus do Brasil e do Exterior - onde foram comparadas a pelagem de exemplares de primatas tombados - a pesquisa foi concluída com sucesso.

Esse conjunto de ações comprovaram que este sagui é a mais nova espécie da Amazônia brasileira. A notícia foi confirmada, mas os estudos sobre o novo macaco só estão começando.

"Os próximos passos são descobrir quantos saguis-do-Munduruku existem, avaliar o status de conservação deles, e coletar dados sobre comportamentos e dieta da espécie. É preocupante que, assim que descobrimos uma espécie nova, já precisamos nos preocupar com sua sobrevivência"

A falta de informações e estudos sobre os saguis da região amazônica levou o profissional a realizar a pesquisa de doutorado para identificar quantas espécies de saguis existem na Amazônia, quais são elas e onde estão distribuídas. Um dos objetivos do pesquisador é entender por que a diversidade na região é tão grande em relação a outras áreas.

Este trabalho é um sonho que ele tinha desde a infância e a grande descoberta dessa nova espécie foi a coroação dos esforços, tempo e recursos investidos ao longo de sua vida e dos quatro anos de doutorado.

“O doutorado foi a forma que eu encontrei de realizar o sonho da minha vida de, um dia, poder fazer um trabalho na Amazônia que pudesse colaborar com a preservação desse domínio. Esse trabalho por si só já é gratificante. Ser coroado com uma espécie nova, então, é fabuloso, uma emoção indescritível”, comemora.

Para Fabiano Rodrigues de Melo, professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Viçosa (MG) e coautor da descrição do sagui-dos-Munduruku, a descoberta da nova espécie é inovadora e serve de apelo à proteção das florestas.

“A descoberta é um fato incrível por si só, mas mostra o pouco que a gente conhece da biodiversidade. Por se tratar de um primata é algo inovador e mais inesperado ainda. A gente pode usar a descrição de novas espécies para melhorar o delineamento de proteção de áreas dentro da própria Amazônia.", comenta.

Conhecendo melhor a biodiversidade temos mais condições de propor reservas, áreas protegidas para que tenhamos essa biodiversidade como um todo, protegida
— Fabiano Melo

A pesquisa liderada por Rodrigo Araújo e os orientadores Tomas Hrbek e Izeni Farias contou com o apoio do Laboratório de Evolução e Genética Animal da Universidade Federal do Amazonas, e com a colaboração de diversos pesquisadores de universidades federais do Brasil e de institutos de pesquisa e conservação da Inglaterra e Estados Unidos.

Sagui-dos-Munduruku

O nome sagui-dos-Munduruku é uma homenagem aos indígenas Munduruku e faz referência à distribuição geográfica da espécie. 

Endêmico do Sul da Amazônia, o sagui ocorre em uma área de aproximadamente 120.000 km², a partir da margem esquerda do Rio Jamanxim, abaixo da foz do Rio Novo, até a margem direita do alto Rio Tapajós, abaixo da foz do Rio Cururu. “Aproximadamente metade da área de distribuição dos saguis cai dentro das terras dos Munduruku”, comenta o pesquisador Rodrigo Araújo.

Mas muito mais do que um nome, a menção traz ainda uma relação importante entre os indígenas e a espécie descoberta.

As florestas das quais ambos dependem estão sofrendo ameaças nessa área. Respeitar a terra indígena e, cumprir com o papel de proteção aos indígenas Munduruku é uma forma de proteger também os saguis e toda a biodiversidade da região
— Rodrigo Araújo

Ainda não é possível saber o status de conservação do sagui-dos-Munduruku, se é considerado vulnerável ou não, mas é fácil perceber quais são as principais ameaças à espécie. “A região onde eles ocorrem tem uma influência muito grande de garimpo de ouro, madeireiros, e produtores rurais. Há um grande desmatamento visivelmente ocorrendo no local”, afirma.

Proteção dos sagui

Além da pesquisa do doutorado, Rodrigo Araújo é coordenador de um projeto de proteção a estes primatas. “Criei o Projeto Saguis da Amazônia com o intuito de entender as ameaças às quais estas espécies estão sujeitas, e desenvolver estratégias para sua conservação e das florestas onde ocorrem, o que passa por aumentar a conscientização das pessoas sobre as espécies de saguis e a importância da floresta."


sexta-feira, 12 de julho de 2019

Saguis nativos vesus saguis exóticos

     Um grupo de pesquisadores do Projeto Aurita da Universidade Federal de Viçosa esteve em Petrópolis para uma pesquisa, parte do Programa de Conservação dos Saguis-da-serra - PCSS. O trabalho foi realizado na última semana, nas matas da cidade, consistindo em levantamentos para coleta de dados e identificação do habitat e distribuição da espécie na região.

    O PCCS faz parte do Novo Pan (Plano de Ação Nacional) para Primatas lançado em 2018 pelo ICMBio - Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade e coordenado pela ONG PREA – Programa de Educação Ambiental. O Programa tem como foco a conservação de duas espécies de saguis, também conhecidos como micos ou macaquinhos, naturais das áreas montanhosas da Mata Atlântica do Sudeste do Brasil e ameaçados de extinção: o sagui-de-serra (Callithrix flaviceps), que ocorre no Espírito Santo; e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), que ocorre nas regiões montanhosas do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

     A ameaça de extinção dos saguis ocorre devido à enorme perda de seu habitat natural (Mata Atlântica); por não serem bem adaptados ao convívio com seres humanos; e por estarem perdendo o pouco território que lhes resta para os saguis invasores provenientes do Nordeste e Centro Oeste.

      Em Petrópolis, os pesquisadores encontraram grupos de C. Aurita (sagui-da-serra-escuro) puros nos limites da Reserva Biológica de Araras, do Parque Nacional da Serra dos Órgãos e da Reserva Biológica do Tinguá.

     Um trabalho de Educação Ambiental também está sendo realizado sob o comando do coordenador do PCCS em Petrópolis, Alessandro Antunes. Palestras, dinâmicas, brincadeiras, teatro de fantoches, dentre outras atividades pedagógicas, já começaram a ser colocadas em prática, sendo o CAUCP – Colégio de Aplicação da Universidade Católica de Petrópolis a primeira unidade educacional a ser contemplada.

     Participaram da pesquisa de campo em Petrópolis: o coordenador de Educação Ambiental da ONG PREA – RJ, Alessandro Antunes; e os integrantes do Projeto Aurita da UFV: o mestrando em Biologia Animal, Orlando Vitor Vital; os graduandos em Medicina Veterinária, Sarisha Trindade do Carmo, Larissa Vaccarini Ávila e Jorge Guimarães dos Santos; os graduandos em Ciências Biológicas, Natan Tomaz Massardi e Dante Feital Gjorup; e o Biólogo Rodrigo Bramili, do Rio de Janeiro.

     Essa pesquisa tem sido patrocinada pela Beauval Nature Association (França) e pela AFdPZ – Associação Francesa de Parques e Zoológicos, e coordenada pelo Dr. Rodrigo Salles de Carvalho - primatólogo coordenador de pesquisa do PREA e membro da Sociedade Brasileira de Primatologia.

Callithrix aurita (foto: Gustavo Pedro de Paula)


Confira o artigo na íntegra acessando o link: https://www.diariodepetropolis.com.br/integra/petropolis-participa-de-programa-contra-extincao-de-saguis-160304

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Espécies invasoras de pinheiros eliminadas até 2022


     Um pinheiro de Natal plantado na areia. Nas dunas da Lagoa da Conceição, na região leste de Florianópolis, a presença das árvores da espécie Pinus elliottii, nativa do Hemisfério Norte, já se tornou banal. São milhares espalhados por Florianópolis graças a uma política pública dos anos 1960 que buscava aumentar a área verde e garantir a fixação das dunas. Mas os prejuízos superaram os supostos benefícios. A meta agora, prevista em lei, é eliminar todas da ilha até 2022. O prazo está chegando ao fim, mas a paisagem mostra que a capital catarinense ainda está longe de se ver livre dessa invasão biológica. 

     No Parque Estadual do Rio Vermelho, 30% do território está coberto por pinheiros e eucaliptos. São 1.532 hectares contaminados por árvores com até 30 metros de altura sob as quais nada mais cresce. Por conta do vento, cada semente do pinus pode viajar até 60 quilômetros antes de se fixar no solo. Assim, a árvore se espalhou por vários lugares da ilha e ameaça a vegetação nativa. A infestação na região da Lagoa da Conceição também foi estimulada por políticas públicas. Os moradores de casas ao redor da lagoa plantavam as mudas gratuitas em seus quintais com o objetivo de manter as dunas longe de suas propriedades. O vento foi levando as sementes dessas árvores para dentro da área de restinga que, desde 1988, corresponde ao Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição.

     O cenário começou a mudar nos anos 2000, quando a prefeitura e o governo do estado passaram a promover ações de controle. A principal foi o decreto municipal, aprovado em 2012, que proíbe o plantio de pinheiros, eucaliptos e casuarinas em Florianópolis e determina que, em 10 anos, as espécies devem estar extintas do município. A lei diz ainda que as árvores devem ser substituídas por espécies nativas e que, depois de 2022, proprietários de terrenos onde as espécies invasoras permanecem podem ser multados em R$ 100 por árvore remanescente. A legislação contempla ainda as casuarinas e os eucaliptos, árvores com características similares às do pinus e que também não pertencem à flora da ilha.

     Apesar disso, só em abril de 2018 foi aprovado o Plano de Ação Integrada, decreto que detalha como a retirada das três espécies invasoras de Florianópolis deve ocorrer. O plano determina que a prefeitura deve realizar o mapeamento da ocorrência das espécies na cidade em até 24 meses.

     Por ser uma árvore de grande porte e com tendência a formar grupamentos exclusivos, o pinheiro americano tem grande impacto sobre os ecossistemas. Para combater a praga, uma ONG local reúne voluntários para retirar os pinheiros do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. Desde 2010, 352 mil pinheiros já foram cortados ou arrancados pelo mutirão do Instituto Hórus. A eficácia do projeto mostra que a luta contra os impactos negativos das espécies exóticas invasoras não é em vão. “O pinus é um problema porque, quando ele entra nos ambientes que ele invade, ele não convive com as plantas que já estão lá”, explica Sílvia Ziller, engenheira florestal e fundadora do Instituto Hórus. “Ele toma conta e não permite a permanência das plantas nativas. Esse processo de dominância é muito ruim para o ambiente.”

     A invasão dos pinheiros é mais comum em ambientes abertos, de vegetação pequena ou arbustiva. São características típicas da vegetação de restinga, que originalmente cobria boa parte do município de Florianópolis. Depois que as árvores estão adultas, as folhas dos pinheiros se acumulam sobre a terra porque os microrganismos presentes no solo catarinense têm dificuldade para decompor um material tão fibroso. Essa cobertura de folhas que se forma no chão dificulta a germinação de outras espécies e facilita ainda mais a dominância dos pinheiros a longo prazo.

     Além de prejudicar espécies nativas, o pinus também resseca o solo, causando problemas na gestão de bacias hidrográficas. Em função do crescimento acelerado, são árvores que consomem mais água do que a média e, quando existem em grande quantidade, podem danificar nascentes ou pequenos cursos d‘água.


https://g1.globo.com/natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/25/dunas-de-florianopolis-sofrem-invasao-de-pinus-arvore-que-ja-foi-distribuida-em-sc-agora-deve-ser-eliminada-da-ilha.ghtml

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Invasão de espécies exóticas em Santa Catarina

     Ao todo, 543 espécies estão listadas na Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras, relatório lançado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Em Santa Catarina, quase 20% delas estão presentes: é um dos estados que mais sofre com o problema no Brasil. É considerada exótica a espécie que está fora de sua área de distribuição natural. Uma parcela pode se proliferar e ameaçar o ecossistema local. Quando isso acontece, elas passam a ser consideradas “espécies exóticas invasoras” – e viram sinônimo de problema. As invasões biológicas já são a segunda maior causa de extinção de espécies em todo o planeta, atrás apenas da exploração comercial, que envolve caça, pesca, desmatamento e extrativismo, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).


     Para pesquisadores, o maior obstáculo hoje é conscientizar a população sobre a relevância do tema. Cortar árvores estrangeiras, como o pinheiro americano, e caçar animais como o javali não são ações imediatamente vistas como benéficas. A aparente crueldade das soluções propostas provoca maior rejeição do público, acredita Michele Dechoum, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Por outro lado, o risco é chegar no extremo oposto, quando somente as espécies passam a ser vistas como culpadas pelos problemas, alerta Alex Nuñer, também professor da UFSC. “Os animais não têm exatamente culpa. (...) A gente precisa entender que o problema é global e que está ligado ao homem.” - Alex Nuñer, professor da UFSC

De espécie nativa a exótica invasora

A introdução de espécies exóticas em ambientes naturais pode ocorrer de diversas maneiras. São quatro os motivos mais comuns: Interesse comercial, transporte marítimo, tráfico de animais, transporte involuntário.

Javalis
Os javalis, que causam enormes prejuízos para produtores de milho no interior de Santa Catarina, foram trazidos da Europa e do Uruguai para criação comercial nos anos 1990. Depois de fugirem de seus criadouros, às vezes cruzando com porcos domésticos criados soltos, eles deram origem a uma população selvagem estimada de 200 mil animais apenas em Santa Catarina.

Pinheiro americano
O pinheiro americano também foi trazido para o país por conta de interesses econômicos. Muito utilizada em plantios florestais, a árvore tornou-se invasora porque foi introduzida em ambientes naturais sensíveis e suas sementes espalham-se rapidamente. Por conta da ação do vento, cada semente pode percorrer até 60 quilômetros. A maior parte das espécies invasoras terrestres é trazida por interesse comercial e levada voluntariamente a novos ambientes. No entanto, algumas invasões biológicas começam involuntariamente. Isso pode acontecer com sementes misturadas às de uso agrícola, patógenos e a maior parte dos insetos.

Mexilhão-dourado
No caso das espécies aquáticas que constituem invasões biológicas, a introdução geralmente está associada ao transporte marítimo. É o caso do mexilhão-dourado, molusco de água doce nativo da Ásia que foi introduzido no Brasil por meio da água de lastro de navios cargueiros.

Saguis
Além das formas de introdução que são comuns no mundo todo, o Brasil sofre ainda com os efeitos do tráfico ilegal de animais silvestres. Em Santa Catarina, os saguis, que são uma ameaça à biodiversidade em Florianópolis, chegaram nos anos 1960 na boleia de caminhoneiros que os traziam do Nordeste como animais de estimação. “Muitas vezes as pessoas não têm conhecimento do animal que estão adquirindo, não tem conhecimento de como é criar um animal silvestre em casa e acabam desistindo e soltando esses animais na natureza", explica Elaine Zuchiwschi, do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA).

No Parque Estadual do Rio Vermelho, em Florianópolis, um centro de reabilitação recebe animais silvestres que são apreendidos em operações da Polícia Ambiental em todo o estado. Em um esforço para conscientizar a população, alguns dos animais recebidos acabam expostos em recintos visíveis para os visitantes que fazem visitas guiadas no parque.



Confira o artigo na íntegra acessando o link: https://g1.globo.com/natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/23/20percent-das-especies-exoticas-invasoras-no-brasil-estao-em-sc-e-causam-prejuizos-para-natureza-e-economia.ghtml

terça-feira, 30 de abril de 2019

Saguis invasores se proliferam em Florianópolis

     Carismático, o sagui-de-tufos-pretos conquistou a simpatia dos moradores de Florianópolis. Não é difícil ver o primata interagindo com visitantes em parques da capital catarinense. O contato entre humanos e saguis, no entanto, pode ser prejudicial às duas espécies: o sagui transmite doenças ao homem e perde a capacidade de procurar alimento na natureza depois de se habituar ao alimento oferecido por humanos. Além disso, o sagui-de-tufos-pretos não é nativo de Santa Catarina: trazido na boleia de caminhoneiros nos anos 1960, o animal chegou ao estado por meio do tráfico ilegal e se reproduziu até tornar-se uma espécie exótica invasora.

     Ainda não se sabe o tamanho do prejuízo ambiental que a espécie está causando no ecossistema da ilha, mas é possível o sagui compete por alimento com primatas nativos, como o macaco-prego, e pode predar ovos e filhotes de aves nativas.

     Os saguis já fazem parte do dia-a-dia de Florianópolis. Moradores e turistas estão acostumados a encontrar o animal nos arredores de parques ou em áreas próximas a matas remanescentes. 83% dos visitantes do Parque Municipal do Córrego Grande e 92% dos moradores dos arredores avistam os saguis com frequência, segundo pesquisa feita pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O parque é o maior urbano de Florianópolis, com cerca de 21 hectares de Mata Atlântica. O problema é que, além de tirar fotos ao avistar os saguis, alguns moradores ainda insistem em alimentar o animal. 13% dos moradores e 7% dos frequentadores do Parque do Córrego Grande admitem oferecer alimento aos saguis. Dos moradores, 63% relataram que os saguis têm costume de entrar nos seus terrenos, isto é, ultrapassar os limites do parque. Destes, 24% afirmaram que os animais entram nas casas em busca de alimento.

     “As pessoas dão comida para esses animais porque ele é fofinho, bonitinho, é uma prática comum. Elas deixam um pratinho com frutas para promover a aproximação do animal silvestre. Isso é feito na ilha toda”, explica a bióloga Cristina Valéria Santos, que estuda os saguis há mais de 15 anos. A alimentação provida pelo homem faz com que os animais se tornem menos capazes de encontrar o próprio sustento. “Eles acabam se tornando mais fortes e não passam pelas privações naturais que os animais silvestres passam”, afirma Santos. “Isso vai impactar positivamente na reprodução e vai deixar os saguis em vantagem em relação às espécies nativas.”

     A proximidade com os humanos causa prejuízos ao sagui e também ao homem. Já foram registrados casos de saguis que morderam pessoas que se aproximaram abruptamente no Parque do Córrego Grande. Além dos riscos à saúde, o sagui também pode representar uma ameaça à biodiversidade de Florianópolis. “Eles competem por alimento com as nossas espécies nativas”, diz Kolesnikovas. Um dos animais nativos que tem alimentação similar a dos saguis é o macaco-prego. “Por serem animais generalistas, que comem de tudo, os saguis-de-tufos-pretos também podem atacar ninhos, comer ovos ou filhotes de passarinhos e causar desequilíbrio ambiental nas espécies daqui", diz a veterinária Cristiane Kolesnikovas.

     Para a bióloga Cristina Santos, ainda faltam estudos capazes de demonstrar o impacto da superpopulação de saguis nas espécies nativas da ilha de Santa Catarina. “É fato que ele está aumentando sua área de distribuição aqui mas a gente ainda não sabe exatamente o impacto disso na biodiversidade e nas populações de espécies nativas”, diz.

     Ainda não há evidências científicas da predação contínua e crescente de ovos de aves por saguis. Por isso não é possível determinar que essa predação é a causa principal do desaparecimento de espécies de aves em Florianópolis. Outros fatores que prejudicam as aves nativas na cidade são o crescimento urbano acelerado, a diminuição e fragmentação de áreas com florestas e também a captura de aves para criação e tráfico ilegal. Pesquisadores avaliam que a invasão biológica dos saguis-de-tufos-pretos nos parques da região Sul do Brasil é uma ameaça constante a essas áreas protegidas. No entanto, as ações para controle dessas bioinvasões não visam erradicar a espécie invasora, já que em muitos casos a medida é praticamente impossível graças a facilidade de instalação e dispersão dos saguis.

     Responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), que acolhe saguis apreendidos em operações da Polícia Ambiental, Cristiane Kolesnikovas acredita que eventuais medidas de controle só terão resultado no longo prazo. “Para começarmos algum projeto de controle populacional precisaria ser feito primeiro um levantamento de quantos animais a gente tem na ilha para que, depois, no caso de um processo de castração, a gente tenha certeza que todos os animais estão castrados”, diz.



Confira o artigo na íntegra acessando o link: https://g1.globo.com/natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/27/saguis-invasores-se-proliferam-em-florianopolis-com-ajuda-de-alimentacao-indevida.ghtml

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Macacos não transmitem a febre amarela!

     Quando falamos de febre amarela, é comum as pessoas confundirem a relação que existe entre a doença e os macacos. A febre amarela é transmitida somente por um mosquito infectado pelo vírus, e não por primatas. Mas como os macacos pegam febre amarela? Nas regiões de mata, um mosquito infectado dos gêneros Haemagogus ou Sabethes pica um macaco, que então começa a sofrer com a doença. Quando um inseto livre do vírus se alimenta do sangue desse macaco contaminado, ele é infectado pelo vírus da febre amarela, e então pode transmiti-lo para outro macaco, que pode espalhá-lo a outro mosquito… É, enfim, um círculo vicioso que já ocorre há muitos e muitos anos dentro das matas brasileiras.

     Os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes só circulam por áreas de mata, mas, se uma pessoa visita uma floresta ou mora perto de uma, por exemplo, pode ser picada por um desses mosquitos infectados e pode apresentar a febre amarela silvestre, entretanto, quando um mosquito Aedes aegypti, comum em diversas cidades brasileiras, pica uma pessoa infectada que voltou de uma região de mata, o Aedes pode armazenar esse agente infeccioso e, então, repassá-lo a outro ser humano que nunca visitou uma região de mata através da picada.



     Se isso ocorre em larga escala, desenvolvemos um ciclo de multiplicação da febre amarela dentro de cidades grandes. Em vez de termos Haemogogus e Sabethes infectados picando macacos e, eventualmente, um ser humano explorador, passamos a ter o Aedes Aegypti disseminando o vírus aos milhares de seres humanos que vivem nas metrópoles. Vale ressaltar que esse fenômeno não ocorre no Brasil desde 1942 e que os macacos são vítimas como os os humanos nessa situação.



Foto: Bugio ruivo (Alouatta guariba) Fonte: https://animalbusiness.com.br/colunas/animais-silvestres/bugio-ruivo/



quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Plano de ação Nacional para espécies exóticas invasoras

Transformações em ecossistemas, extinção de espécies nativas, prejuízos para plantações são alguns estragos que a presença de espécies de fora do local podem ocasionar ao meio ambiente. Denominadas de exóticas invasoras, termo definido pela Convenção da Diversidade Biológica (CDB), essas espécies são plantas, animais ou microrganismos que se proliferam sem controle fora de seus habitat, trazendo riscos à biodiversidade e até mesmo aos seres humanos.


Algumas espécies desse grupo possuem ciclo reprodutivo muito rápido, o que as tornam verdadeiras pragas para a região em que se firmam. Recursos naturais, que antes poderiam ser suficientes para o bem-estar de todas as espécies de determinado habitat, passam a não suprir mais as necessidades nessas regiões, após as bioinvasões. Esse desequilíbrio ecossistêmico pode causar a morte de espécies nativas e provocar até mesmo a sua extinção, no caso das endêmicas (exclusivas de um determinado local).

A invasão se deve principalmente à ação humana, como, por exemplo, o comércio internacional de animais de estimação e plantas ornamentais, a partir da introdução de espécies para criação ou psicultura (criação de peixes); ou pelo transporte não intencional, como a água de lastro, processo pelo qual os tanques dos navios captam água do mar para garantir a segurança operacional e a estabilidade e que acaba possibilitando a captura e o transporte acidental de espécies exóticas. As mudanças climáticas, o desmatamento e a degradação de áreas verdes também são fatores que tornam os ecossistemas suscetíveis a bioinvasões.


Proteger os ambientes naturais dessas espécies é considerado um dos principais desafios para ambientalistas do mundo inteiro. Como ação estratégica, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) se reuniram para elaborar os Planos Nacionais de Controle e Monitoramento de Espécies Exóticas Invasoras. Os PANs pioneiros foram voltados para as espécies de javalis-europeus (Sus scrofa), e para as de coral-sol (Tubastraea coccinea e T. tagusensis)

Os Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN) são políticas públicas, pactuadas com a sociedade, que identificam e orientam as ações prioritárias para combater as ameaças que põem em risco populações de espécies e os ambientes naturais e assim protegê-los. 


O Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-Coleira da (PAN PPMA) desenvolvido em 2018 contempla 13 espécies ameaçadas de extinção e tem como objetivo geral "Aumentar o habitat e reduzir o declínio das populações de primatas e preguiça ameaçados da Mata Atlântica em cinco anos" e como visão de futuro "Todos os primatas e preguiças da Mata Atlântica com populações viáveis e protegidas em seus habitats naturais, em uma sociedade comprometida com sua conservação". O PAN PPMA é composto por SEIS objetivos específicos com vigência até 2023.

O PhD. Carlos Ramón Ruiz Miranda, professor associado da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e coordenador do Setor de Etologia, Reintrodução e Conservação de Animais Silvestres (SERCAS), faz parte do PAN para a Conservação dos Primatas da Mata Atlântica e da Preguiça-de-Coleira como articulador de ações em colaboração com a Associação Mico Leão Dourado (AMLD). Essa parceria busca  encontrar soluções de manejo que protejam espécies nativas e controlem ou erradiquem espécies exóticas invasoras. O planejamento de manejo visa implementar projetos de restauração ecológica para conexão de fragmentos ou ampliação de habitat; realizar manejo populacional in situ de mico-leão-dourado, de acordo com as recomendações do GAT; propor a adequação do arcabouço legal relativo ao manejo, controle e destinação de populações alóctones e híbridas com impacto nas espécies ameaçadas de extinção, incluindo autorização de remoção – inclusive com eutanásia ou esterilização – dos invasores e híbridos decorrentes de introduções e de manejo inadequado em cativeiro; refinar chave de decisão para orientar ações de manejo para controle/erradicação de populações invasoras, incluindo destinação dos espécimes manejados de populações alóctones e híbridas decorrentes de introduções; diagnosticar fatores relacionados ao estabelecimento de novas populações invasoras; desenvolver ações de sensibilização e educação ambiental com relação ao tráfico, uso, caça e apanha de animais silvestres e com relação aos impactos dos animais domésticos, com foco nas espécies alvo do PAN e elaborar e divulgar de forma integrada informações sobre as doenças que impactem os táxons-alvo.