quinta-feira, 20 de junho de 2019

Espécies invasoras de pinheiros eliminadas até 2022


     Um pinheiro de Natal plantado na areia. Nas dunas da Lagoa da Conceição, na região leste de Florianópolis, a presença das árvores da espécie Pinus elliottii, nativa do Hemisfério Norte, já se tornou banal. São milhares espalhados por Florianópolis graças a uma política pública dos anos 1960 que buscava aumentar a área verde e garantir a fixação das dunas. Mas os prejuízos superaram os supostos benefícios. A meta agora, prevista em lei, é eliminar todas da ilha até 2022. O prazo está chegando ao fim, mas a paisagem mostra que a capital catarinense ainda está longe de se ver livre dessa invasão biológica. 

     No Parque Estadual do Rio Vermelho, 30% do território está coberto por pinheiros e eucaliptos. São 1.532 hectares contaminados por árvores com até 30 metros de altura sob as quais nada mais cresce. Por conta do vento, cada semente do pinus pode viajar até 60 quilômetros antes de se fixar no solo. Assim, a árvore se espalhou por vários lugares da ilha e ameaça a vegetação nativa. A infestação na região da Lagoa da Conceição também foi estimulada por políticas públicas. Os moradores de casas ao redor da lagoa plantavam as mudas gratuitas em seus quintais com o objetivo de manter as dunas longe de suas propriedades. O vento foi levando as sementes dessas árvores para dentro da área de restinga que, desde 1988, corresponde ao Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição.

     O cenário começou a mudar nos anos 2000, quando a prefeitura e o governo do estado passaram a promover ações de controle. A principal foi o decreto municipal, aprovado em 2012, que proíbe o plantio de pinheiros, eucaliptos e casuarinas em Florianópolis e determina que, em 10 anos, as espécies devem estar extintas do município. A lei diz ainda que as árvores devem ser substituídas por espécies nativas e que, depois de 2022, proprietários de terrenos onde as espécies invasoras permanecem podem ser multados em R$ 100 por árvore remanescente. A legislação contempla ainda as casuarinas e os eucaliptos, árvores com características similares às do pinus e que também não pertencem à flora da ilha.

     Apesar disso, só em abril de 2018 foi aprovado o Plano de Ação Integrada, decreto que detalha como a retirada das três espécies invasoras de Florianópolis deve ocorrer. O plano determina que a prefeitura deve realizar o mapeamento da ocorrência das espécies na cidade em até 24 meses.

     Por ser uma árvore de grande porte e com tendência a formar grupamentos exclusivos, o pinheiro americano tem grande impacto sobre os ecossistemas. Para combater a praga, uma ONG local reúne voluntários para retirar os pinheiros do Parque Natural Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. Desde 2010, 352 mil pinheiros já foram cortados ou arrancados pelo mutirão do Instituto Hórus. A eficácia do projeto mostra que a luta contra os impactos negativos das espécies exóticas invasoras não é em vão. “O pinus é um problema porque, quando ele entra nos ambientes que ele invade, ele não convive com as plantas que já estão lá”, explica Sílvia Ziller, engenheira florestal e fundadora do Instituto Hórus. “Ele toma conta e não permite a permanência das plantas nativas. Esse processo de dominância é muito ruim para o ambiente.”

     A invasão dos pinheiros é mais comum em ambientes abertos, de vegetação pequena ou arbustiva. São características típicas da vegetação de restinga, que originalmente cobria boa parte do município de Florianópolis. Depois que as árvores estão adultas, as folhas dos pinheiros se acumulam sobre a terra porque os microrganismos presentes no solo catarinense têm dificuldade para decompor um material tão fibroso. Essa cobertura de folhas que se forma no chão dificulta a germinação de outras espécies e facilita ainda mais a dominância dos pinheiros a longo prazo.

     Além de prejudicar espécies nativas, o pinus também resseca o solo, causando problemas na gestão de bacias hidrográficas. Em função do crescimento acelerado, são árvores que consomem mais água do que a média e, quando existem em grande quantidade, podem danificar nascentes ou pequenos cursos d‘água.


https://g1.globo.com/natureza/desafio-natureza/noticia/2019/04/25/dunas-de-florianopolis-sofrem-invasao-de-pinus-arvore-que-ja-foi-distribuida-em-sc-agora-deve-ser-eliminada-da-ilha.ghtml

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