É comum
ver saguis nas florestas, praças e ruas do Rio de Janeiro. Apesar de
serem vítimas do tráfico de animais, esses macaquinhos também são vilões
para a fauna local devido à disputa por alimentos e à disseminação de
doenças. O tema é abordado em artigo na CH 283.
Ao acompanhar micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia)
em seu ambiente, qualquer pessoa pode ter uma experiência semelhante à
vivida por um dos autores (Ruiz-Miranda) enquanto observava seu comportamento.
Ele olhava para cima, em direção à parte inferior da copa das árvores, com uma imagem pré-formada em sua mente. Ao avistá-los, checou a presença de todos os micos do grupo, já observados antes, e começou a registrar o que faziam, comparando as anotações com um inventário de comportamentos
(um etograma) previamente elaborado e bem memorizado. Então, não
reconheceu as atividades de um dos micos, cujas atitudes lembravam a de
uma criança brincando com um ‘amigo imaginário’.
O pesquisador olhou novamente, tentando entender. Até perceber que outro bicho estava lá, com
o corpo – de cabeça para baixo e inclinado – quase oculto contra o
tronco da árvore. A equipe de campo notou sua surpresa e todos olharam
para o local que ele fixava, até que alguém disse: “Mico-estrela”.
Esse é o nome popular do sagui que brincava com
um jovem mico-leão-dourado. O pesquisador perguntou: “Eles não são
daqui, certo?” E ouviu a resposta: “Eles estão aqui, não estão?”. Esse
diálogo praticamente resume o estado atual da situação: o que fazer com esses saguis?
Vítimas do tráfico
A presença abundante de saguis do gênero Callithrix em regiões onde não são nativos é um problema nacional. Esses primatas são introduzidos fora das áreas naturais de ocorrência como resultado do tráfico ilegal de animais selvagens no Brasil.Filhotes novos e jovens adultos desses primatas são capturados nas matas onde vivem e transportados para grandes cidades, para satisfazer o comércio nacional e internacional.
Os compradores, em zonas rurais ou urbanas, os liberam em suas fazendas ou jardins. Os transportadores também os soltam às margens das estradas, quando são espécimes crescidos e menos dóceis. E a própria polícia, muitas vezes, confisca os animais de seus ‘donos’ e os liberta à beira de florestas.
No estado do Rio de Janeiro, que segundo as pesquisas já realizadas parece ser o mais afetado, o problema é evidente há décadas. Os animais liberados aclimataram-se ao novo ambiente, principalmente em áreas florestadas, e formaram populações que vêm ocupando mais território e disputando alimento com espécies locais.
Os saguis introduzidos na bacia do rio São João, no interior do Rio de Janeiro, são encontrados na maioria dos fragmentos florestais ocupada
atualmente por micos-leões-dourados. (imagem: Laboratório de Ciências
Ambientais/ Uenf)
Para avaliar se a presença desses primatas ‘intrusos’ representava um
problema para a conservação dos micos-leões-dourados, o Laboratório de
Ciências Ambientais, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (Uenf), em parceria com a Associação Mico-Leão-Dourado, iniciou em 1998 uma pesquisa com
os saguis presentes na área de proteção ambiental (APA) da bacia do rio
São João, uma das áreas de endemismo do mico-leão-dourado no interior
do Rio de Janeiro.
Diversas questões direcionaram o projeto: Que espécies estão
presentes? De onde vieram? A área territorial que ocupam expandiu-se a
partir da cidade do Rio de Janeiro? Sua população está estabelecida?
Qual o seu estado físico? Eles competem por recursos com os micos-leões-dourados? O que fazer com eles?
O estudo vem sendo desenvolvido por uma equipe de campo do
laboratório e da Associação Mico-Leão-Dourado, organização não
governamental que tem como objetivos proteger essa espécie e a biodiversidade da mata atlântica.Confira o artigo na íntegra acessando o link: http://cienciahoje.org.br/artigo/vitimas-e-viloes/
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